No ano passado, a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 4,83%, acima do limite máximo da meta estipulada pelo governo.

Na tentativa de controlar a variação de preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) fez sucessivas elevações na Selic, taxa básica de juros, que saiu de 10,5% ao ano, em maio, para 12,25%, em dezembro, o que eleva os custos do crédito rural. Em 2025 houve duas novas altas: para 13,25% em janeiro e para 14,25% em março.

A produtividade no campo também sofreu forte impacto de condições climáticas desfavoráveis nas principais regiões produtoras do país. De acordo com estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2023/24 houve uma redução de 6,7% em relação no volume produzido no ciclo anterior, mesmo com um acréscimo de 1,6% na área semeada.

“A redução observada se deve, principalmente, à demora na regularização de chuvas no início da janela de plantio, que gerou atraso da semeadura da soja, aliada às baixas precipitações durante parte do ciclo das lavouras nos estados da região Centro-Oeste, do Matopiba, em São Paulo e no Paraná, sobretudo nas lavouras de milho segunda safra e na soja”, diz boletim referente ao último levantamento do ciclo.

O impacto refletiu diretamente no valor adicionado da agropecuária no Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2024. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar de o principal indicador da atividade econômica do país ter avançado 3,4% frente a 2023, o PIB do agro recuou 3,2%.

Os dados do IBGE mostram que a agricultura puxou o indicador para baixo, suplantando a contribuição positiva de pecuária, produção florestal e pesca. De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do instituto, efeitos climáticos adversos afetaram várias culturas importantes, com destaque para a soja (-4,6%) e o milho (-12,5%).

Os números da Serasa Experian mostram que, em 2024, a maior demanda por recuperação judicial no agro veio de produtores rurais que atuam como pessoa física (566, ou 44,4% do total de pedidos). Na sequência vieram os que atuam como pessoa jurídica (409, ou 32,1%) e empresas relacionadas ao agronegócio (297, ou 23,3%).

Entre os estados, Mato Grosso concentrou o maior número de pedidos (269), seguido por Goiás (190) e Minas Gerais (114).

Marcelo Pimenta, da Serasa Experian, pondera que, apesar da alta significativa, o número de solicitações pode ser considerado pequeno em relação ao universo de cerca de 1,4 milhão de produtores que tomaram crédito rural durante os últimos dois anos no país.

Os levantamentos da entidade foram feitos a partir do número de documentos que solicitam recuperação judicial no agronegócio registradas mensalmente na base de dados da companhia, provenientes dos tribunais de justiça de todos os estados.

São contemplados nesse levantamento proprietários e produtores rurais de todos os portes que atuam como pessoas físicas e jurídicas, além de empresas demandantes do recurso analisado cuja Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) principal constante no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) seja da cadeia agro. As análises estaduais são realizadas de acordo com a Unidade Federativa atrelada ao cadastro do demandante.

Fonte: Gazeta do Povo